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O caso da Sasha

A Sasha foi referenciada por um colega porque estava com muitas dificuldades para andar. Tinha muita dor nas duas patas de trás e muita dificuldade para se levantar. Trazia Rx onde era visível remodelação completa das duas cabeças do fémur – como podem ver na imagem.

A Sasha é uma cadela da raça Dogue de Bordéus, com menos de dois anos de idade, e com um peso de 42 Kg. 

Sendo uma cadela tão jovem era a candidata ideal para a realização de prótese da anca. Esta técnica cirúrgica consiste na substituição da cabeça e colo femorais que estão deformados por causa da displasia da anca. Esta deformação é consequência do processo osteoartrósico instalado nestas articulações tão cedo como os 5 – 6 meses de idade. 

Esta inflamação crónica e consequente deformação provocam dor constante e incapacidade nos animais afetados. E a Sasha tem toda a vida dela pela frente e o nosso objetivo era retirar as estruturas ósseas deformadas e que provocam dor por materiais biocompatíveis que são 100% funcionais e que permitem eliminar a dor permanentemente!

Neste processo também é substituído o acetábulo por uma cúpula biocompatível. 

Nas próximas imagens mostramos uma articulação normal e uma com displasia grave. 

Articulação displásica                           
             

Articulação normal

No entanto, no dia em que consultámos a Sasha verificámos que também estava com desconforto nos dois joelhos. Depois de exame clínico e radiográfico concluímos que também tinha rotura do ligamento cruzado anterior (RLCA), nos dois!

Ao contrário do que acontece no ser humano, nos cães, a rotura deste ligamento é raramente traumática. Acontece depois de um processo degenerativo se instalar no joelho. 

Com esta RLCA, o joelho fica muito instável e por esta razão o menisco muitas vezes também sofre rotura. É um processo doloroso e que requere estabilização cirúrgica. 

Nas próximas imagens mostramos um joelho normal e estável e um joelho com RLCA, portanto instável. 

Joelho estável  (sem RLCA)                           

Joelho instável como o da Sasha (com RLCA)

Por esta razão, tivemos que alterar o nosso plano de tratamento para a Sasha. 

Em cães grandes não é recomendável fazer cirurgia a duas articulações em simultâneo. Decidimos fasear as intervenções. Começámos pelo joelho direito e passado um mês operámos o joelho esquerdo. Só depois de resolvermos as RLCA é que poderíamos fazer as cirurgias da próteses da anca.

No nosso hospital estabilizamos os joelhos com uma técnica cirúrgica que se chama TPLO, acrónimo para Tibial Plateau Leveling Osteotomy. Nesta cirurgia alteramos o jogo de forças dentro da articulação tornando redundante a existência de ligamento ou outra qualquer sutura para a sua estabilização. 

Aplicamos esta técnica todas as semanas no nosso hospital há mais de 12 anos, com resultados excelentes na recuperação funcional e na ausência de complicações e é utilizada em todos os nossos pacientes com RLCA, dos 2 aos 80 Kg!

No Rx o resultado destas cirurgias foi este, depois de vários meses de recuperação: 

 

Quando a Sasha finalmente recuperou das cirurgias aos dois joelhos decidimos começar a resolver o problema da displasia da anca. 

A prótese utilizada no VetOeiras é não cimentada, o que significa que não utilizamos cimento ósseo para a fixar ao osso. 

É desenvolvida e produzida por uma empresa Suíça e é feita em titânio revestido com hidroxiapatita para mais rapidamente aderir ao osso. A cabeça do fémur é cerâmica e articula num plástico ultraresistente (PEEK).  

A prótese que colocamos é esta:

 

Começámos por operar o lado direito e dois meses depois operámos o lado esquerdo.

Para que a recuperação de uma cirurgia desta envergadura corra bem é fundamental que haja repouso absoluto durante os dois meses que se seguem à mesma. 

Passou um ano desde que vimos a Sasha pela primeira vez e agora já passaram três meses desde a última cirurgia que foi realizada e que foi a prótese da anca do lado esquerdo.

Estas imagens mostram como ficam as articulações com as próteses.



A Sasha felizmente recuperou muito bem de todas as intervenções cirúrgicas, sem nenhuma complicação, e deixa-nos a satisfação de sabermos que lhe proporcionamos desta forma uma vida sem dor articular. 


Gostaríamos de agradecer ao colega Ricardo que nos referenciou o caso e a confiança e a forma incansável como os tutores trataram da Sasha durante este período. 

 
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